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quinta-feira, 28 de abril de 2016

O pulso ainda pulsa...



O Brasil, nos últimos dias, tem feito lembrar da música dos Titãs, O Pulso:


Peste bubônica
Câncer, pneumonia
Raiva, rubéola
Tuberculose e anemia
Rancor, cisticercose
Caxumba, difteria
Encefalite, faringite
Gripe e leucemia...

E o pulso ainda pulsa
E o pulso ainda pulsa...

...

(obras mal feitas
obras com sobre preço
corrupção, ódio
machismo
apologia à ditadura 
polícia matando nas ruas
por deus, pela família
GOLPE, disfarçado, mas ainda assim
GOLPE!

E o pulso ainda pulsa
E o pulso ainda pulsa...)


A foto acima, é para mim, a síntese desse "pulsar" desse Brasil, uma síntese de esperança. Foi tirada pelo Lucas Battaglin, um jovem que participava das manifestações contra o  aumento abusivo das passagens de ônibus urbanos em Porto Alegre, em 2013. E Lucas conta a história dessa foto:


"Ontem na manifestação houve um momento singular que, com certeza, irei lembrar por um bom tempo... Vi um policial conversando de maneira amigável com os manifestantes , chegando perto percebi que era o major do batalhão , Major Biachi , totalmente suscetível a escutar todos que perto deles estavam. Vi um manifestante expressando sua opinião pra ele , relatando o preço orbital das passagens e argumentando sobre tudo isso... Apesar de eu perceber que não era o momento e que aquelas argumentações com o major eram totalmente inúteis -tendo em vista que ele não é o responsável pelos problemas públicos e também sofre com eles - o major se mostrou muito acessível e compreensível , escutando todas as críticas mesmo que não fossem necessariamente remetidos a ele ou seu trabalho. Nesse meio tempo o major expôs o seu lado da moeda , '' Vocês acham que eu não gostaria de estar em casa ? '' , tenho certeza que sim , e isso só torna explícito o quanto eles não são os culpados , muitos menos nossos inimigos , estão submetidos ao sistema assim como nós... após diagnosticar que aquelas argumentações não estavam sendo eficientes , pois evidentemente era um momento de comemoração , tínhamos atingidos todos objetivos , fizemos uma manifestação popular linda , sem conflito algum , sem nenhuma briga nem agressão , vivemos ali um marco social , um despertar social , uma ''primavera porto-alegrense'' , no qual vi todas classes , cores , culturas e raças unidas por um bem social comum , então não era o momento de argumentar com o major e sim pular , comemorar , celebrar:
-Major , gostaria de te dar essa flor para celebrar a amistosidade e a pacificidade que houve do início ao fim da manifestação. Desejo tudo de bom pro senhor.
Aceitando minha flor com um sorriso , ele me agradeceu e cumprimentou-me , falando que queria apenas o meu e o nosso bem.
-Quero apenas teu bem também major , aliás , Eu te amo major.
Nesse momento ficou evidente que o major ficou meio sem jeito com aquilo... entre sorrisos e estar sem jeito e de maneira inocente ele me disse:
- Não sou gay. hehehe
Percebi que talvez ele não tivesse entendido o sentimento empregado na palavra amor , já li muitas coisas sobre a banalização do ''eu te amo'' , porém ficou evidente que vivemos um processo inverso no qual o '' amor '' foi supervalorizado e é visto como um interesse sexual ou algo assim...
- Eu também não sou homossexual , e isso em nenhum momento me impedi de te amar major , e eu te amo , e desejo tudo de bom e de melhor pra ti e tua família.
O resultado das minhas palavras ao major ? tirem cada um as suas conclusões através da imagem..."




Cenas de um Porto não muito Alegre

Pegadas - Bebeto Alves
Trago as ruas de Porto Alegre
E na cidade dos meus versos
O sonho dos meus amigos
Eu percebo que não quero migalhas
Nem tampouco medalhas
Isso tudo é ilusão
Armado até os dentes para a guerra
Me dói o coração
Perceber a situação em que estamos
envolvidos sem perspectivas
De qualquer solução
Trago as ruas de Porto Alegre
E na cidade dos meus versos
O sonho dos meus amigos
Que estamos mudando um país
Uma voz vem lá de dentro e me diz
Que o sistema no fundo é o mesmo
e em nós se perpetua
E não cabe mais aqui e agora
essa máquina que nos fez aprendiz
De um poder vagabundo
Trago as ruas de Porto Alegre
E na cidade dos meus versos
O sonho dos meus amigos
desperdiçar energia
Com uma vazia retórica estética
amordaçando o grito de um coração
Que luta contra toda falta de perspectiva
e informação do pensamento
Abatido pelos mísseis imperialistas
dentro de sua própria nação
com toda falta de cultura, sensibilidade,
amor, respeito e educação
Trago as ruas de Porto Alegre
E na cidade dos meus versos
O sonho dos meus amigos
E fico puto ao constatar que
desperdiçamos tempo parados em segredo
Bebendo no bar que nos feriu
a memória e nos tirou a força humana
O único sentido de revolução do ser
O objetivo intrínseco de um homem
novo de qualquer geração
Para toda e qualquer falta de possibilidade
Tem que haver reação
Trago as ruas de Porto Alegre
O sonho dos meus amigos
Foi a burocracia, o misticismo e a religião
Esperar por deus, por alimento e pão
Esperar que as coisas mudem num próximo momento
E eu atento contra a culpa e o sofrimento
judaico-cristão
Contra toda dúvida e medo
Com muita insatisfação
Trago as ruas de Porto Alegre
E na cidade dos meus versos
O sonho dos meus amigos
Eu lembro o poeta Duclós que disse: ?estar a salvo
não é se salvar"
E eu complementaria, hoje em dia
se sentir salvo é esperar pela salvação
E nada nos salvará
Um dia, ainda, nos aniquilarão
Parodiando Russians do Sting
eu também diria, então:
Espero que os brasileiros amem seus filhos,
de coração!
Trago as ruas de Porto Alegre
E na cidade dos meus versos
O sonho dos meus amigos.

Nas pegadas das minhas botas
Caminhando pelas ruas de
uma cidade americana
num país desenvolvido
Nas pegadas das minhas botas
É quando eu penso na razão que nos leva a acreditar
Nas pegadas das minhas botas
E não podemos mais
Nas pegadas das minhas botas
Nas pegadas das minhas botas
E na cidade dos meus versos
E agora eu sei que o que nos ensinou a esperar inutilmente
Nas pegadas das minhas botas
Caminhando pelas ruas de uma cidade americana
Nas pegadas das minhas botas

Faz tempos que não apareço por aqui. Desestimulado de escrever: Governo Sartori, parcelamento de salários, impeachment, golpe...

Mas nesse tempo registrei algumas cenas de Porto Alegre e que denominei de "Cenas de um Porto não muito Alegre. Lixo nas ruas, desrespeito com os pedestres, demora para limpar as ruas após os temporais, bueiros entupidos.

E vejam que não é só "inoperância" do poder público, Também tem "o dedo" dos cidadãos de bem..

A música de Bebeto Alves talvez ilustre um pouco essa paisagem. Concordam?