Em janeiro de 2010 escrevi um texto para o Jornal do Sudeste,
de Encruzilhada do Sul, fazendo um pequeno resgate da história do vinho
no município, principalmente da memória de Ivo Osório Mendes, um dos
pioneiros na luta pela implantação de parreirais. Compartilho aqui este
texto.
Um tributo ao “Tio Ivo”
Paulo Augusto Coelho de Souza
Sociólogo
Fiz uma pesquisa no sítio de busca Google com a expressão
“Encruzilhada do Sul” + vinho
e obtive o seguinte resultado: 5940 ocorrências. São sítios, blogues,
notícias e vídeos que falam da excelência das videiras, do solo e do
clima de Encruzilhada para a produção de uvas e consequentemente vinhos.
Há praticamente um consenso entre especialistas sobre a qualidade do
vinho produzido a partir das “nossas” videiras. E já somos considerados
um “terroir”.
A história do vinho em Encruzilhada deve um tributo
a um homem chamado Ivo Osório Mendes, conhecido como Tio Ivo. Ele era
Técnico Agrícola, e já nas décadas de 40 e 50 trabalhava com genética de
trigo, na Estação Experimental de Encruzilhada. Naquela época,
desenvolveu variedades de trigo com dupla aptidão: pastoreio e produção
de grãos. Santa Bárbara e Encruzilhada eram os nomes dessas variedades
e, segundo informações, na década de 80 ainda eram utilizadas nos
Estados Unidos. Lamentavelmente, hoje nossa Estação Experimental sofre
um processo de desmonte e não desenvolve mais qualquer pesquisa, se
resumindo praticamente a uma plantação de Eucaliptos.
Depois de
aposentado no Estado, Tio Ivo implantou o Campo Experimental da extinta
COTRENSUL, onde continuou desenvolvendo pesquisas com trigo, soja,
milho, girassol e pastagens, permitindo que os produtores conhecessem
quais as variedades que melhor se adaptavam no município. Em uma justa
homenagem, a Cooperativa denominou o campo como “Campo Experimental Ivo
Osório Mendes”.
Trabalhei com o Tio Ivo, de 1986 a 1988 e tive a
honra de ter com ele longas conversas, quando me contava de suas
andanças pelo município, junto com o Padre Nicolau. Depois das missas,
palestrava sobre técnicas agrícolas, num trabalho de extensão rural e
assistência técnica, ajudando a implantar novas técnicas e novas
culturas. Também me contava como multiplicava sementes de batata,
importadas diretamente da Holanda, para distribuição aos produtores.
Desse tempo, me disse ele, levava apenas um arrependimento: o de ter
ajudado a implantar o uso de sementes híbridas, que se por um lado
aumentaram enormemente a produtividade, por outro, tirou das mãos do
produtor a propriedade da semente.
Fiz inúmeras entrevistas com o
Tio Ivo para o programa de rádio da Cooperativa e como ele era um
entusiasta da fruticultura e da vitivinicultura sempre dizia que o clima
e o solo de Encruzilhada eram "especiais" para estas culturas,
especialmente para a cultura da videira e do vinho. Numa determinada
ocasião, convenceu o Batistella e o Sr. Alfredo Moreira, então
presidente da Cooperativa, e foi à Serra Gaúcha buscar mudas de videira
para implantar em um parreiral no Campo Experimental e iniciar um
trabalho de fomento junto aos produtores locais.
Esse trabalho foi
o pontapé inicial da vitivinicultura em Encruzilhada e contagiou o
Batistella, que levou a idéia adiante quando foi Secretário da
Agricultura. Foi isso que permitiu hoje termos inúmeros produtores e
vinícolas, oriundos da Serra Gaúcha, produzindo uvas em Encruzilhada e
que o município seja considerado um “terroir” diferenciado, propiciando
vinhos considerados excelentes e até mesmo premiados.
Mas ainda
falta um trabalho a fazer, para o qual o Tio Ivo nos faz muita falta:
difundir entre os produtores “locais” a cultura das videiras. Isto
certamente traria um dinamismo ainda maior para a comunidade e para a
economia do município.