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segunda-feira, 15 de abril de 2013

Um tributo ao "Tio Ivo"


Em janeiro de 2010 escrevi um texto para o Jornal do Sudeste, de Encruzilhada do Sul, fazendo um pequeno resgate da história do vinho no município, principalmente da memória de Ivo Osório Mendes, um dos pioneiros na luta pela implantação de parreirais. Compartilho aqui este texto.


Um tributo ao “Tio Ivo”
Paulo Augusto Coelho de Souza
Sociólogo

Fiz uma pesquisa no sítio de busca Google com a expressão “Encruzilhada do Sul” + vinho e obtive o seguinte resultado: 5940 ocorrências. São sítios, blogues, notícias e vídeos que falam da excelência das videiras, do solo e do clima de Encruzilhada para a produção de uvas e consequentemente vinhos. Há praticamente um consenso entre especialistas sobre a qualidade do vinho produzido a partir das “nossas” videiras. E já somos considerados um “terroir”.
A história do vinho em Encruzilhada deve um tributo a um homem chamado Ivo Osório Mendes, conhecido como Tio Ivo. Ele era Técnico Agrícola, e já nas décadas de 40 e 50 trabalhava com genética de trigo, na Estação Experimental de Encruzilhada. Naquela época, desenvolveu variedades de trigo com dupla aptidão: pastoreio e produção de grãos. Santa Bárbara e Encruzilhada eram os nomes dessas variedades e, segundo informações, na década de 80 ainda eram utilizadas nos Estados Unidos. Lamentavelmente, hoje nossa Estação Experimental sofre um processo de desmonte e não desenvolve mais qualquer pesquisa, se resumindo praticamente a uma plantação de Eucaliptos.
Depois de aposentado no Estado, Tio Ivo implantou o Campo Experimental da extinta COTRENSUL, onde continuou desenvolvendo pesquisas com trigo, soja, milho, girassol e pastagens, permitindo que os produtores conhecessem quais as variedades que melhor se adaptavam no município. Em uma justa homenagem, a Cooperativa denominou o campo como “Campo Experimental Ivo Osório Mendes”.
Trabalhei com o Tio Ivo, de 1986 a 1988 e tive a honra de ter com ele longas conversas, quando me contava de suas andanças pelo município, junto com o Padre Nicolau. Depois das missas, palestrava sobre técnicas agrícolas, num trabalho de extensão rural e assistência técnica, ajudando a implantar novas técnicas e novas culturas. Também me contava como multiplicava sementes de batata, importadas diretamente da Holanda, para distribuição aos produtores.  Desse tempo, me disse ele, levava apenas um arrependimento: o de ter ajudado a implantar o uso de sementes híbridas, que se por um lado aumentaram enormemente a produtividade, por outro, tirou das mãos do produtor a propriedade da semente.
Fiz inúmeras entrevistas com o Tio Ivo para o programa de rádio da Cooperativa e como ele era um entusiasta da fruticultura e da vitivinicultura sempre dizia que o clima e o solo de Encruzilhada eram "especiais" para estas culturas, especialmente para a cultura da videira e do vinho. Numa determinada ocasião, convenceu o Batistella e o Sr. Alfredo Moreira, então presidente da Cooperativa, e foi à Serra Gaúcha buscar mudas de videira para implantar em um parreiral no Campo Experimental e iniciar um trabalho de fomento junto aos produtores locais.
Esse trabalho foi o pontapé inicial da vitivinicultura em Encruzilhada e contagiou o Batistella, que levou a idéia adiante quando foi Secretário da Agricultura. Foi isso que permitiu hoje termos inúmeros produtores e vinícolas, oriundos da Serra Gaúcha, produzindo uvas em Encruzilhada e que o município seja considerado um “terroir” diferenciado, propiciando vinhos considerados excelentes e até mesmo premiados.
Mas ainda falta um trabalho a fazer, para o qual o Tio Ivo nos faz muita falta: difundir entre os produtores “locais” a cultura das videiras. Isto certamente traria um dinamismo ainda maior para a comunidade e para a economia do município.

2 comentários:

  1. Ayrton Luiz Balsemão29 de maio de 2014 às 11:44

    Paulo Augusto: no período em que atuei no Jornal do Sudeste, 1978 a 1981, gostava de manusear os exemplares antigos do semanário. Lembro-me que, em um determinado exemplar bem velho, li uma reportagem salientando que o município tinha, pela sua localização e clima, amplas possibilidades de desenvolver o cultivo de videiras. Pena que não seja muito fácil localizar esse texto na coleção de jornais; precisaria ser um curioso com bastante paciência para fazer isso. Um abraço!

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    1. Pois é isto mesmo Ayrton. Mas acho que valeria a pena alguém tentar resgatar essas notícias.

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