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sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Galinha com Caldo de Mancarra

Hoje é sexta-feira, então vamos falar de algo mais ameno: uma receita de um prato tradicional da Guiné-Bissau, a Galinha com Caldo de Mancarra*.

Na década de 80 iniciei o curso de Oceanologia na FURG, em Rio Grande. Tinha um colega oriundo da Guiné-Bissau, o Carlos Cabral, com quem acabamos dividindo apartamento por um tempo. Foi ele quem nos repassou essa receita de Caldo de Mancarra, um prato muito delicioso para ser apreciado no inverno (é daqueles que dá "calorão"), acompanhado de um vinho tinto (qualquer outro acompanhamento é para os fracos).

Lembrei dessa receita ontem quando o amigo, e Cheff, Pedrão (da SEPLAG/RS) falava de jantar africano que havia elaborado.

Mas vamos à receita:

Ingredientes:

1 galinha caipira, cortada em pedaços;2 cebolas médias picadas grande;3 tomates picados;4 dentes de alho amassado;½ pimentão picado;500 gramas de mancarra descascada, com pele;Sal e pimenta a gosto (sugiro pimenta rosa em grão).

Preparação:

Primeiramente vamos preparar a mancarra.Torrar a mancarra no forno, cuidando para não queimar (estraga o gosto). Quando estiver no ponto usado para “tira-gosto”, tirar do forno e deixar esfriar.Quando estiver fria, tirar a pele da mancarra. Após usar o pilão (ou rolo de massa ou mesmo uma garrafa vazia) para triturar a mancarra, formando uma “farinha grossa”. Reservar.

Agora vamos à preparação da galinha.Primeiro dourar a galinha em óleo quente (usar pouco, pois a mancarra é bastante gordurosa). Depois a refogue com a cebola , o alho, o tomate e o pimentão, até formar um molho grosso. Misture a “farinha” de mancarra e cubra com água, deixando ferver até cozinhar a mancarra e amaciar a galinha ( de 45 min a uma hora). Quando iniciar a fervura aproveitar para "calibrar" o sal e a pimenta. Servir com arroz branco e salada mista (antes de servir retire um pouco do óleo da mancarra que fica sobre o molho - pode ser reaproveitado posteriormente). 
* Mancarra, aqui no Brasil é bastante conhecido por amendoim.
 Uma dica para preguiçosos: nos supermercados existe farinha de amendoim pronta. Mas o gosto não fica igual e perde o charme e a originalidade.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Uma história do negro no Brasil


Tenho andado incomodado com o reacionarismo incrustado na nossa sociedade. Me vejo em meio a amigos queridos e conhecidos totalmente preconceituosos, racistas, homofóbicos e visceralmente “direitosos”, discutindo esses temas nas redes sociais como verdadeiros doutores, com um “conhecimento de causa” impressionante, ou seja, sua opinião pessoal, ou pior ainda, o senso-comum.
É claro todos tem direito à liberdade de pensamento, mas se quiser discutir o assunto é bom um mínimo de conhecimento para além do achismo, um mínimo de “leitura” sobre o tema. História, sociologia, filosofia e literatura não fazem mal a ninguém e não irão transformar um “direitoso” num esquerdista ferrenho, um heterossexual num homossexual ou o contrário.
Por isso procuro me socorrer de autores, pensadores, etc... que conseguem discutir esses temas de uma maneira clara, didática e embasada. Então compartilho este texto do Juremir Machado da Silva, publicado originalmente no Correio do Povo do dia 20/11/2012, que aborda a questão dos negros no Brasil.


Em 1988, a Biblioteca Nacional organizou uma exposição sobre a história do negro no Brasil e publicou o texto que segue catálogo da mostra.
Nunca é demais lembrar a síntese que segue.
A dívida brasileira com os negros é impagável.
A resistência a qualquer política que diminua essa mácula histórica é infame.
A política de cotas é o mínimo que se pode fazer para começar a eliminar as consequências inerciais da nossa maior infâmia em cinco séculos.

A ESCRAVIDÃO NO BRASIL
 “Sem negros não há Pernambuco”, afirmava no século XVI o Padre Antônio Vieira. E outro jesuíta, André João Antonil, escrevia, no século XVI11, no seu “Cultura e Opulência do Brasil por suas Drogas e Minas”: “os escravos são as mãos e os pés do senhor de engenho, porque sem eles no Brasil não é possível fazer, conservar e aumentar a fazenda, nem ter engenho corrente”.
O Brasil, em razão de sua dimensão e da ausência de preocupação coma reprodução biológica dos negros, foi o maior importador de escravos das Américas. Estudos recentes estimam em quase 10 milhões o número de negros transferidos para o Novo Mundo, entre os séculos XV e XIX. Para o Brasil teriam vindo em torno de 3.650.000.
Diversos grupos étnicos ou “nações”, com culturas também distintas, foram trazidos para o Brasil. A Guiné e o Sudão, ao norte da linha do Equador, o Congo e Angola, no centro e sudoeste da África, e a região de Moçambique, na costa oriental, foram as principais áreas fornecedoras. Das duas primeiras vieram, entre outros, os afantis, axantis, jejes, peuls, hauçás (muçulmanos, chamados malês na Bahia) e os nagôs ou iorubás.
Estes últimos tinham uma grande influência política, cultural e religiosa em ampla área sudanesa. Eram de cultura banto os negros provenientes do Congo e de Angola — os cabindas, caçanjes, muxicongos, monjolos, rebolos —, assim como os de Moçambique.
Os escravos trabalhavam na agricultura, nos ofícios e nos serviços domésticos e urbanos. Os negros do campo cultivavam para a exportação — atividade que dava sentido à colonização — a cana-de-açúcar, o algodão, o fumo, o café, além de se encarregarem da extração dos metais preciosos. Os negros de oficio especializaram-se na moagem da cana e no preparo do açúcar, em trabalhos de construção, carpintaria, olaria, sapataria, ferraria, etc.
No século XIX, não foram poucos os escravos que trabalharam como operários em nossas primeiras fábricas. Quanto aos negros domésticos, escolhidos em geral entre os mais
 “sociáveis”, cuidavam de praticamente todo o serviço das casas-grandes e habitações urbanas: carregar água,retirar o lixo, além de transportar fardos e os seus senhores em redes, cadeiras e palanquins.
No século XIX generalizou-se ainda a atividade dos negros de ganho e dos negros de aluguel. Os primeiros buscavam serviços na rua, trabalhando como ambulantes, por exemplo, com a condição de dividir com os seus senhores a renda obtida. Os segundos eram alugados a terceiros também para variados serviços. Era comum vê-los nas ruas falando alto, oferecendo-se para trabalhos, chamando a atenção dos pedestres ao se aproximarem com fardos pesados, entoando cantos de trabalho. Ê, cuê… / Ganhado… / Ganha dinhero / Pra seu sinhô.
Nas minas e lavouras de exportação, nestas últimas na época de safra, era comum o escravo trabalhar até 14 ou 16 horas, alimentando-se e vestindo-se mal e se expondo ao clima. Em geral amontoavam-se em senzalas impróprias para a habitação e careciam de cuidados médicos, sendo frequentemente vítimas de doenças que se tomavam endêmicas, como a tuberculose, disenteria, tifo, sífilis, verminose, malária. A média de vida útil, por isso, variava de sete a dez anos.
Não há motivos para se duvidar da brutalidade das condições gerais de vida e da violência dos castigos recebidos. A legislação portuguesa e brasileira, a documentação iconográfica e os relatos deixados pelos brancos e, em número muito menor, pelos negros (a mesma legislação impedia o acesso à educação) dão forte testemunho a respeito.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

El angel de la bicicleta - Leon Gieco

bajen las armas
Que aquí solo hay pibes  comiendo!

Leon Gieco é um artista argentino, que apesar da nossa propalada integração regional é pouco conhecido aqui no RS, acho até que ou nunca fez shows no RS ou se os fez foram poucos. Vejam essa letra e o vídeo da canção El angel de la bicicleta. É uma homenagem a Cláudio "Pocho" Lepratti, assassinado pela polícia, em Rosario, enquanto tentava defender as crianças que estavam no refeitório de uma escola. Veja mais na Wikipedia.

 

 El angel de la bicicleta - Leon Gieco

Cambiamos ojos por cielo
Sus palabras tan dulces, tan claras
Cambiamos por truenos

Sacamos cuerpo, pusimos alas
Y ahora vemos una bicicleta alada que viaja
Por las esquinas del barrio, por calles
Por las paredes de baños y cárceles
¡bajen las armas
Que aquí solo hay pibes comiendo!

Cambiamos fe por lágrimas
Con qué libro se educó esta bestia
Con saña y sin alma
Dejamos ir a un ángel
Y nos queda esta mierda
Que nos mata sin importarle
De dónde venimos, qué hacemos, qué pensamos
Si somos obreros, curas o médicos
¡bajen las armas
Que aquí solo hay pibes comiendo!

Cambiamos buenas por malas
Y al ángel de la bicicleta lo hicimos de lata
Felicidad por llanto
Ni la vida ni la muerte se rinden
Con sus cunas y sus cruces

Voy a cubrir tu lucha más que con flores
Voy a cuidar de tu bondad más que con plegarias
¡bajen las armas
Que aquí solo hay pibes comiendo!

Cambiamos ojos por cielo
Sus palabras tan dulces, tan claras
Cambiamos por truenos

Sacamos cuerpo, pusimos alas
Y ahora vemos una bicicleta alada que viaja
Por las esquinas del barrio, por calles
Por las paredes de baños y cárceles
¡bajen las armas
Que aquí solo hay pibes comiendo!

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

O ódio (singular absoluto) a Lula

Como disse na abertura do Balaio de Gatos, este espaço terá "cometimentos" próprios e alheios. Este link ( http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/o-odio-singular-absoluto-a-lula ) me chegou através de um e-mail do amigo Fernando Maia Costa. O texto reforçou em mim um sentimento incômodo de que não adianta tentar o diálogo com quem tem este ódio. É chover no molhado, malhar em ferro frio. O ódio cega a racionalidade.

O ódio (singular absoluto) a Lula


Lula é um político brasileiro com defeitos e virtudes. Se você não conseguir ver uma coisa ou outra é porque, certamente, a cegueira da paixão ou do ódio está tomando o seu corpo como um câncer.

O que se percebe no caso de Lula é que o ódio intenso tenta, sobremaneira, vencer o amor intenso. É uma luta. A luta entre o amor e o ódio a esse personagem da história
Outros já experimentaram do mesmo fel. Mas não sei se há concorrentes para Lula. Talvez nem Getúlio.

Quantitativamente, Lula está em vantagem. Mas os odiadores acreditam que seu ódio seria de melhor qualidade, uma espécie de crème de la crème do ódio - um ódio insuperável por qualquer amor de multidões.

É um ódio cultivado com gotas de ira diárias nas páginas dos jornais. E de revistas. Cultivado com olhos de sangue, faca entre os dentes, espinhos nas pontas dos dedos.

Só nos últimos meses, Lula já "esteve" por trás do relatório do CPI da Cachoeira, teve caso com a mulher presa na última operação da PF, já tentou adiar o julgamento, já produziu provas para se vingar de Perillo (porque ele teria sido o primeiro a avisá-lo do mensalão), já tentou subornar Deus para que terminasse a obra no domingo.

A paixão amorosa conhecemos bem. Vem daqueles que se identificaram com ele e com ele conseguiram ser lembrados pela primeira vez na história da política brasileira: seja pelos programas sociais, seja pela ascensão econômica, ou até simplesmente pelas características pessoais, culturais e linguísticas. Vem também do louvor à camisa, ao vermelho da camisa do PT.

Mas encontrar representantes do ódio não é tão difícil também. E, como qualquer sentimento que desafie a racionalidade, eles encontrarão justificativas em qualquer coisa.

Mesmo que o ódio se disfarce de termos falsamente conceituais (lulo-petismo, lulo-comunismo, lulo-qualquercoisismo), o ódio a Lula não é um ódio-conceito. Não é abstrato. É material. Corpóreo. Figadal. Biliar. Visceral.

Também não é ódio consequência. Não é um "ódio, porque..." É um "ódio ódio", um ódio em si mesmo, um ódio singular absoluto, que se disfarça de motivos: linguísticos, culturais, morais, econômicos, etc, mas sempre ódio.

Lula já foi acusado de trair a mulher, de violentar o companheiro de cela, de roubar o Brasil, de pentecostalizar a África, de fortalecer "ditaduras" latino-americanas, africanas, asiáticas, de se curar do câncer em hospital particular (sim, uma acusação), de assassinar passageiros de avião, de dar o título à Vila Isabel, de provocar a fuga do vilão no final da novela das oito; já foi acusado de dançar festa junina, de beber vinho caro, de torcer para o Corinthians, de comer buchada de bode, de ter amputado o próprio dedo para receber pensão, de ter a voz rouca, de ser gente, de estar vivo, de ter nascido...

Só um conselho para os odiadores: o inverso do amor não é o ódio, mas a indiferença. No caso em questão, o ódio só acentua e inflama a paixão daqueles que, em maioria dos votos, acabarão levando vantagem.

Sejam indiferentes a Lula, e a história se encarregará de fazer o resto.
Outros já experimentaram do mesmo fel. Mas não sei se há concorrentes para Lula. Talvez nem Getúlio.
Quantitativamente, Lula está em vantagem. Mas os odiadores acreditam que seu ódio seria de melhor qualidade, uma espécie de crème de la crème do ódio - um ódio insuperável por qualquer amor de multidões.

É um ódio cultivado com gotas de ira diárias nas páginas dos jornais. E de revistas. Cultivado com olhos de sangue, faca entre os dentes, espinhos nas pontas dos dedos.

Só nos últimos meses, Lula já "esteve" por trás do relatório do CPI da Cachoeira, teve caso com a mulher presa na última operação da PF, já tentou adiar o julgamento, já produziu provas para se vingar de Perillo (porque ele teria sido o primeiro a avisá-lo do mensalão), já tentou subornar Deus para que terminasse a obra no domingo.

A paixão amorosa conhecemos bem. Vem daqueles que se identificaram com ele e com ele conseguiram ser lembrados pela primeira vez na história da política brasileira: seja pelos programas sociais, seja pela ascensão econômica, ou até simplesmente pelas características pessoais, culturais e linguísticas. Vem também do louvor à camisa, ao vermelho da camisa do PT.

Mas encontrar representantes do ódio não é tão difícil também. E, como qualquer sentimento que desafie a racionalidade, eles encontrarão justificativas em qualquer coisa.

Mesmo que o ódio se disfarce de termos falsamente conceituais (lulo-petismo, lulo-comunismo, lulo-qualquercoisismo), o ódio a Lula não é um ódio-conceito. Não é abstrato. É material. Corpóreo. Figadal. Biliar. Visceral.

Também não é ódio consequência. Não é um "ódio, porque..." É um "ódio ódio", um ódio em si mesmo, um ódio singular absoluto, que se disfarça de motivos: linguísticos, culturais, morais, econômicos, etc, mas sempre ódio.

Lula já foi acusado de trair a mulher, de violentar o companheiro de cela, de roubar o Brasil, de pentecostalizar a África, de fortalecer "ditaduras" latino-americanas, africanas, asiáticas, de se curar do câncer em hospital particular (sim, uma acusação), de assassinar passageiros de avião, de dar o título à Vila Isabel, de provocar a fuga do vilão no final da novela das oito; já foi acusado de dançar festa junina, de beber vinho caro, de torcer para o Corinthians, de comer buchada de bode, de ter amputado o próprio dedo para receber pensão, de ter a voz rouca, de ser gente, de estar vivo, de ter nascido...

Só um conselho para os odiadores: o inverso do amor não é o ódio, mas a indiferença. No caso em questão, o ódio só acentua e inflama a paixão daqueles que, em maioria dos votos, acabarão levando vantagem.

Sejam indiferentes a Lula, e a história se encarregará de fazer o resto.
Quantitativamente, Lula está em vantagem. Mas os odiadores acreditam que seu ódio seria de melhor qualidade, uma espécie de crème de la crème do ódio - um ódio insuperável por qualquer amor de multidões.
É um ódio cultivado com gotas de ira diárias nas páginas dos jornais. E de revistas. Cultivado com olhos de sangue, faca entre os dentes, espinhos nas pontas dos dedos.

Só nos últimos meses, Lula já "esteve" por trás do relatório do CPI da Cachoeira, teve caso com a mulher presa na última operação da PF, já tentou adiar o julgamento, já produziu provas para se vingar de Perillo (porque ele teria sido o primeiro a avisá-lo do mensalão), já tentou subornar Deus para que terminasse a obra no domingo.

A paixão amorosa conhecemos bem. Vem daqueles que se identificaram com ele e com ele conseguiram ser lembrados pela primeira vez na história da política brasileira: seja pelos programas sociais, seja pela ascensão econômica, ou até simplesmente pelas características pessoais, culturais e linguísticas. Vem também do louvor à camisa, ao vermelho da camisa do PT.

Mas encontrar representantes do ódio não é tão difícil também. E, como qualquer sentimento que desafie a racionalidade, eles encontrarão justificativas em qualquer coisa.

Mesmo que o ódio se disfarce de termos falsamente conceituais (lulo-petismo, lulo-comunismo, lulo-qualquercoisismo), o ódio a Lula não é um ódio-conceito. Não é abstrato. É material. Corpóreo. Figadal. Biliar. Visceral.

Também não é ódio consequência. Não é um "ódio, porque..." É um "ódio ódio", um ódio em si mesmo, um ódio singular absoluto, que se disfarça de motivos: linguísticos, culturais, morais, econômicos, etc, mas sempre ódio.

Lula já foi acusado de trair a mulher, de violentar o companheiro de cela, de roubar o Brasil, de pentecostalizar a África, de fortalecer "ditaduras" latino-americanas, africanas, asiáticas, de se curar do câncer em hospital particular (sim, uma acusação), de assassinar passageiros de avião, de dar o título à Vila Isabel, de provocar a fuga do vilão no final da novela das oito; já foi acusado de dançar festa junina, de beber vinho caro, de torcer para o Corinthians, de comer buchada de bode, de ter amputado o próprio dedo para receber pensão, de ter a voz rouca, de ser gente, de estar vivo, de ter nascido...

Só um conselho para os odiadores: o inverso do amor não é o ódio, mas a indiferença. No caso em questão, o ódio só acentua e inflama a paixão daqueles que, em maioria dos votos, acabarão levando vantagem.

Sejam indiferentes a Lula, e a história se encarregará de fazer o resto.
É um ódio cultivado com gotas de ira diárias nas páginas dos jornais. E de revistas. Cultivado com olhos de sangue, faca entre os dentes, espinhos nas pontas dos dedos.
Só nos últimos meses, Lula já "esteve" por trás do relatório do CPI da Cachoeira, teve caso com a mulher presa na última operação da PF, já tentou adiar o julgamento, já produziu provas para se vingar de Perillo (porque ele teria sido o primeiro a avisá-lo do mensalão), já tentou subornar Deus para que terminasse a obra no domingo.

A paixão amorosa conhecemos bem. Vem daqueles que se identificaram com ele e com ele conseguiram ser lembrados pela primeira vez na história da política brasileira: seja pelos programas sociais, seja pela ascensão econômica, ou até simplesmente pelas características pessoais, culturais e linguísticas. Vem também do louvor à camisa, ao vermelho da camisa do PT.

Mas encontrar representantes do ódio não é tão difícil também. E, como qualquer sentimento que desafie a racionalidade, eles encontrarão justificativas em qualquer coisa.

Mesmo que o ódio se disfarce de termos falsamente conceituais (lulo-petismo, lulo-comunismo, lulo-qualquercoisismo), o ódio a Lula não é um ódio-conceito. Não é abstrato. É material. Corpóreo. Figadal. Biliar. Visceral.

Também não é ódio consequência. Não é um "ódio, porque..." É um "ódio ódio", um ódio em si mesmo, um ódio singular absoluto, que se disfarça de motivos: linguísticos, culturais, morais, econômicos, etc, mas sempre ódio.

Lula já foi acusado de trair a mulher, de violentar o companheiro de cela, de roubar o Brasil, de pentecostalizar a África, de fortalecer "ditaduras" latino-americanas, africanas, asiáticas, de se curar do câncer em hospital particular (sim, uma acusação), de assassinar passageiros de avião, de dar o título à Vila Isabel, de provocar a fuga do vilão no final da novela das oito; já foi acusado de dançar festa junina, de beber vinho caro, de torcer para o Corinthians, de comer buchada de bode, de ter amputado o próprio dedo para receber pensão, de ter a voz rouca, de ser gente, de estar vivo, de ter nascido...

Só um conselho para os odiadores: o inverso do amor não é o ódio, mas a indiferença. No caso em questão, o ódio só acentua e inflama a paixão daqueles que, em maioria dos votos, acabarão levando vantagem.

Sejam indiferentes a Lula, e a história se encarregará de fazer o resto.
Só nos últimos meses, Lula já "esteve" por trás do relatório do CPI da Cachoeira, teve caso com a mulher presa na última operação da PF, já tentou adiar o julgamento, já produziu provas para se vingar de Perillo (porque ele teria sido o primeiro a avisá-lo do mensalão), já tentou subornar Deus para que terminasse a obra no domingo.
A paixão amorosa conhecemos bem. Vem daqueles que se identificaram com ele e com ele conseguiram ser lembrados pela primeira vez na história da política brasileira: seja pelos programas sociais, seja pela ascensão econômica, ou até simplesmente pelas características pessoais, culturais e linguísticas. Vem também do louvor à camisa, ao vermelho da camisa do PT.

Mas encontrar representantes do ódio não é tão difícil também. E, como qualquer sentimento que desafie a racionalidade, eles encontrarão justificativas em qualquer coisa.

Mesmo que o ódio se disfarce de termos falsamente conceituais (lulo-petismo, lulo-comunismo, lulo-qualquercoisismo), o ódio a Lula não é um ódio-conceito. Não é abstrato. É material. Corpóreo. Figadal. Biliar. Visceral.

Também não é ódio consequência. Não é um "ódio, porque..." É um "ódio ódio", um ódio em si mesmo, um ódio singular absoluto, que se disfarça de motivos: linguísticos, culturais, morais, econômicos, etc, mas sempre ódio.

Lula já foi acusado de trair a mulher, de violentar o companheiro de cela, de roubar o Brasil, de pentecostalizar a África, de fortalecer "ditaduras" latino-americanas, africanas, asiáticas, de se curar do câncer em hospital particular (sim, uma acusação), de assassinar passageiros de avião, de dar o título à Vila Isabel, de provocar a fuga do vilão no final da novela das oito; já foi acusado de dançar festa junina, de beber vinho caro, de torcer para o Corinthians, de comer buchada de bode, de ter amputado o próprio dedo para receber pensão, de ter a voz rouca, de ser gente, de estar vivo, de ter nascido...

Só um conselho para os odiadores: o inverso do amor não é o ódio, mas a indiferença. No caso em questão, o ódio só acentua e inflama a paixão daqueles que, em maioria dos votos, acabarão levando vantagem.

Sejam indiferentes a Lula, e a história se encarregará de fazer o resto.
A paixão amorosa conhecemos bem. Vem daqueles que se identificaram com ele e com ele conseguiram ser lembrados pela primeira vez na história da política brasileira: seja pelos programas sociais, seja pela ascensão econômica, ou até simplesmente pelas características pessoais, culturais e linguísticas. Vem também do louvor à camisa, ao vermelho da camisa do PT.
Mas encontrar representantes do ódio não é tão difícil também. E, como qualquer sentimento que desafie a racionalidade, eles encontrarão justificativas em qualquer coisa.

Mesmo que o ódio se disfarce de termos falsamente conceituais (lulo-petismo, lulo-comunismo, lulo-qualquercoisismo), o ódio a Lula não é um ódio-conceito. Não é abstrato. É material. Corpóreo. Figadal. Biliar. Visceral.

Também não é ódio consequência. Não é um "ódio, porque..." É um "ódio ódio", um ódio em si mesmo, um ódio singular absoluto, que se disfarça de motivos: linguísticos, culturais, morais, econômicos, etc, mas sempre ódio.

Lula já foi acusado de trair a mulher, de violentar o companheiro de cela, de roubar o Brasil, de pentecostalizar a África, de fortalecer "ditaduras" latino-americanas, africanas, asiáticas, de se curar do câncer em hospital particular (sim, uma acusação), de assassinar passageiros de avião, de dar o título à Vila Isabel, de provocar a fuga do vilão no final da novela das oito; já foi acusado de dançar festa junina, de beber vinho caro, de torcer para o Corinthians, de comer buchada de bode, de ter amputado o próprio dedo para receber pensão, de ter a voz rouca, de ser gente, de estar vivo, de ter nascido...

Só um conselho para os odiadores: o inverso do amor não é o ódio, mas a indiferença. No caso em questão, o ódio só acentua e inflama a paixão daqueles que, em maioria dos votos, acabarão levando vantagem.

Sejam indiferentes a Lula, e a história se encarregará de fazer o resto.
Mas encontrar representantes do ódio não é tão difícil também. E, como qualquer sentimento que desafie a racionalidade, eles encontrarão justificativas em qualquer coisa.
Mesmo que o ódio se disfarce de termos falsamente conceituais (lulo-petismo, lulo-comunismo, lulo-qualquercoisismo), o ódio a Lula não é um ódio-conceito. Não é abstrato. É material. Corpóreo. Figadal. Biliar. Visceral.

Também não é ódio consequência. Não é um "ódio, porque..." É um "ódio ódio", um ódio em si mesmo, um ódio singular absoluto, que se disfarça de motivos: linguísticos, culturais, morais, econômicos, etc, mas sempre ódio.

Lula já foi acusado de trair a mulher, de violentar o companheiro de cela, de roubar o Brasil, de pentecostalizar a África, de fortalecer "ditaduras" latino-americanas, africanas, asiáticas, de se curar do câncer em hospital particular (sim, uma acusação), de assassinar passageiros de avião, de dar o título à Vila Isabel, de provocar a fuga do vilão no final da novela das oito; já foi acusado de dançar festa junina, de beber vinho caro, de torcer para o Corinthians, de comer buchada de bode, de ter amputado o próprio dedo para receber pensão, de ter a voz rouca, de ser gente, de estar vivo, de ter nascido...

Só um conselho para os odiadores: o inverso do amor não é o ódio, mas a indiferença. No caso em questão, o ódio só acentua e inflama a paixão daqueles que, em maioria dos votos, acabarão levando vantagem.

Sejam indiferentes a Lula, e a história se encarregará de fazer o resto.
Mesmo que o ódio se disfarce de termos falsamente conceituais (lulo-petismo, lulo-comunismo, lulo-qualquercoisismo), o ódio a Lula não é um ódio-conceito. Não é abstrato. É material. Corpóreo. Figadal. Biliar. Visceral.
Também não é ódio consequência. Não é um "ódio, porque..." É um "ódio ódio", um ódio em si mesmo, um ódio singular absoluto, que se disfarça de motivos: linguísticos, culturais, morais, econômicos, etc, mas sempre ódio.

Lula já foi acusado de trair a mulher, de violentar o companheiro de cela, de roubar o Brasil, de pentecostalizar a África, de fortalecer "ditaduras" latino-americanas, africanas, asiáticas, de se curar do câncer em hospital particular (sim, uma acusação), de assassinar passageiros de avião, de dar o título à Vila Isabel, de provocar a fuga do vilão no final da novela das oito; já foi acusado de dançar festa junina, de beber vinho caro, de torcer para o Corinthians, de comer buchada de bode, de ter amputado o próprio dedo para receber pensão, de ter a voz rouca, de ser gente, de estar vivo, de ter nascido...

Só um conselho para os odiadores: o inverso do amor não é o ódio, mas a indiferença. No caso em questão, o ódio só acentua e inflama a paixão daqueles que, em maioria dos votos, acabarão levando vantagem.

Sejam indiferentes a Lula, e a história se encarregará de fazer o resto.
Também não é ódio consequência. Não é um "ódio, porque..." É um "ódio ódio", um ódio em si mesmo, um ódio singular absoluto, que se disfarça de motivos: linguísticos, culturais, morais, econômicos, etc, mas sempre ódio.
Lula já foi acusado de trair a mulher, de violentar o companheiro de cela, de roubar o Brasil, de pentecostalizar a África, de fortalecer "ditaduras" latino-americanas, africanas, asiáticas, de se curar do câncer em hospital particular (sim, uma acusação), de assassinar passageiros de avião, de dar o título à Vila Isabel, de provocar a fuga do vilão no final da novela das oito; já foi acusado de dançar festa junina, de beber vinho caro, de torcer para o Corinthians, de comer buchada de bode, de ter amputado o próprio dedo para receber pensão, de ter a voz rouca, de ser gente, de estar vivo, de ter nascido...

Só um conselho para os odiadores: o inverso do amor não é o ódio, mas a indiferença. No caso em questão, o ódio só acentua e inflama a paixão daqueles que, em maioria dos votos, acabarão levando vantagem.

Sejam indiferentes a Lula, e a história se encarregará de fazer o resto.
Lula já foi acusado de trair a mulher, de violentar o companheiro de cela, de roubar o Brasil, de pentecostalizar a África, de fortalecer "ditaduras" latino-americanas, africanas, asiáticas, de se curar do câncer em hospital particular (sim, uma acusação), de assassinar passageiros de avião, de dar o título à Vila Isabel, de provocar a fuga do vilão no final da novela das oito; já foi acusado de dançar festa junina, de beber vinho caro, de torcer para o Corinthians, de comer buchada de bode, de ter amputado o próprio dedo para receber pensão, de ter a voz rouca, de ser gente, de estar vivo, de ter nascido...
Só um conselho para os odiadores: o inverso do amor não é o ódio, mas a indiferença. No caso em questão, o ódio só acentua e inflama a paixão daqueles que, em maioria dos votos, acabarão levando vantagem.

Sejam indiferentes a Lula, e a história se encarregará de fazer o resto.
Só um conselho para os odiadores: o inverso do amor não é o ódio, mas a indiferença. No caso em questão, o ódio só acentua e inflama a paixão daqueles que, em maioria dos votos, acabarão levando vantagem.
Sejam indiferentes a Lula, e a história se encarregará de fazer o resto.
Sejam indiferentes a Lula, e a história se encarregará de fazer o resto.

 brasileira.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

O DEUS E O DIABO NO PAÍS DO CARNAVAL



Compartilho, com a devida anuência,  o texto do amigo Joanes Rosa, de Encruzilhada do Sul. A maioria das pessoas esbravejam senso-comum ao se referir ao mensalão. As análises mais centradas, mesmo de não petistas, argumentam esta questão das provas necessárias...


O DEUS E O DIABO NO PAÍS DO CARNAVAL

Joanes  Rosa    


O medicamento que mais sucesso tem alcançado, nos últimos dias, e frequentado as páginas do Facebook, é a Bobagina, Baboseirina ou Barbosina (não recordo bem o nome, mas é por aí). Com seu amplo espectro, tem sido a panacéia para inúmeros males que atingem a sociedade brasileira, principalmente para o Mal de Lewandowski. Entretanto ainda não procuramos nos informar se foram realizados testes exaustivos que garantissem a sua eficiência e sua eficácia. Também não nos perguntamos se esse produto já foi aprovado pelos órgãos responsáveis pela liberação para a sua venda desse produto, nem tampouco sobre os efeitos colaterais que ele possa causar. Costumamos crer no remédio milagroso, na reza, na simpatia, etc. Temos a maior dificuldade em nos questionarmos sobre o que nos dizem, sobre o que lemos e sobre o que ouvimos falar. Temos, enfim, uma enorme preguiça intelectual. Nos últimos anos nunca se viu tantas pessoas opinando sobre os assuntos em evidência na mídia, como agora sobre o caso do julgamento do chamado “Mensalão”. Não que isto seja indesejável ou proibido, pelo contrário, é um sinal de que o povo brasileiro quer exercer a sua cidadania, inteirando-se dos problemas nacionais e apontando soluções para eles. Acontece que numa democracia recente, como a nossa, são inevitáveis os exageros e as paixões na apreciação dos fatos e das suas versões. Elegemos o Ministro Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal, como o herói deste país, a ponto de já se querer vê-lo como presidente da república. Como vilão, o Ministro Ricardo Lewandowski. Neste processo estão sendo julgados os réus e os julgadores. O julgamento político e ideológico já ocorreu e continua ocorrendo. Quem julgar em desacordo com o relator já pode-se considerar condenado. Quem, minimamente, conhece o Direito, o Processo e os procedimentos, sabe que aquilo que não está nos autos do processo, não está no mundo jurídico. Que os julgadores devem se ater às provas trazidas aos autos e, a partir daí, aplicar o Direito para a alcançar a Justiça. Que o juiz, mesmo com sua ampla atuação e livre convencimento, não pode julgar em desacordo com o contido no processo – isto chama-se: segurança jurídica -. . Que são normais as divergências sobre o entendimento das matérias colocada sob julgamento, em qualquer colegiado, seja câmara, grupo ou pleno. Não se pode julgar contrariamente às provas. Não se pode conceder aquilo que não foi pedido, e a decisão deve ser, rigorosamente, justificada. Um processo desta natureza, com milhares de páginas, inúmeros depoimentos, provas, perícias, pedidos do Ministério Público, pedidos dos advogados, etc. dão a dimensão da sua complexidade e enseja a divergência entre os ministros. Portanto não podemos cometer os exageros que se tem visto por aí nas redes sociais: nem endeusar o Ministro Joaquim Barbosa, nem endemoniar o Ministro Lewandowski. Alguém, além dos diretamente interessados na lide, leu os autos do processo? Duvido-ó-dó.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

“Direitos humanos para humanos direitos” - parte 2




A respeito da postagem anterior, complemento compartilhando o texto de Matheus Pichonelli 


Almeidinha era o sujeito inventado pelos amigos de faculdade para personalizar tudo o que não queríamos nos transformar ao longo dos anos. A projeção era a de um cidadão médio: resmungão em casa, satisfeito com o emprego na “firma” e à espera da aposentadoria para poder tomar banho, colocar pijama às quatro da tarde, assistir ao Datena e reclamar da janta preparada pela esposa. O Almeidinha é aquele sujeito capaz de rir de qualquer piada de português, negro, gay e loira. Que guarda revistas pornográficas no armário, baba nas pernas da vizinha desquitada (é assim que ele fala) mas implica quando a filha coloca um vestido mais curto. Que não perde a chance de dizer o quanto a esposa (ele chama de “patroa”) engordou desde o casamento.

O Almeidinha, para nosso espanto, está hoje em toda parte. Multiplicou-se em proporção geométrica e, com os anos, se modernizou. O sujeito que montava no carro no fim de semana e levava a família para ir ao jardim zoológico dar pipoca aos macacos (apesar das placas de proibição) sucumbiu ao sinal dos tempos e aderiu à internet. Virou um militante das correntes de e-mail com alertas sobre o perigo comunista, as contas no exterior do ex-presidente, os planos do Congresso para acabar com o 13º salário. Depois foi para o Orkut. Depois para o Facebook. Ali encontrou os amigos da firma que todos os dias o lembram dos perigos de se viver num mundo sem valores familiares. O Almeidinha presta serviços humanitários ao compartilhar alarmes sobre privacidade na rede, homenagens a pessoas doentes e fotos de crianças deformadas. O Almeidinha também distribui bons dias aos amigos com piadas sobre o Verdão (“estude para o vestibular porque vai cair…hihihii”) e mensagens motivacionais. A favorita é aquela sobre amar as pessoas como se não houvesse amanhã, que ele jura ser do Cazuza mas chegou a ele como Caio Fernandes (sic) Abreu.
O Almeidinha gosta também de se posicionar sobre os assuntos que causam comoção. Para ele, a atual onda de violência em São Paulo só acontece porque os pobres, para ele potenciais criminosos (seja assassino ou ladrão de galinha) têm direitos demais. O Almeidinha tem um lema: “Direitos Humanos para Humanos Direitos”. Aliás, é ouvir essa expressão, que ele não sabe definir muito bem, e o Almeidinha boa praça e inofensivo da vizinhança se transforma. “Lógica da criminalidade”, “superlotação de presídios”, “sindicato do crime”, “enfrentamento”, “uso excessivo da força”, para ele, é conversa de intelectual. E se tem uma coisa que o Almeidinha detesta mais que o Lula ou o Mano Menezes (sempre nesta ordem) é intelectual. O Almeidinha tem pavor. Tivesse duas bombas eram dois endereços certos: a favela e a USP. A favela porque ele acredita no governador Sergio Cabral quando ele fala em fábrica de marginais. A USP porque está cansado de trabalhar para pagar a conta de gente que não tem nada a fazer a não ser promover greves, invasões, protestos e espalhar palavras difíceis. O Almeidinha vota no primeiro candidato que propuser esterilizar a fábrica de marginal e a construção de um estacionamento no lugar da universidade pública.
Uma metralhadora na mão do Almeidinha e não sobraria vagabundo na Terra. (O Almeidinha até fala baixo para não ser repreendido pela “patroa”, mas se alguém falar ao ouvido dele que “Hitler não estava assim tão errado” ganha um amigo para o resto da vida).
A cólera, que o fazia acordar condenando o mundo pela manhã, está agora controlada graças aos remédios. O Almeidinha evoluiu muito desde então. Embora desconfiado, o Almeidinha anda numas, por exemplo, de que agora as coisas estão entrando nos eixos porque os políticos – para ele a representação de tudo o que o impediu de ter uma casa na praia – estão indo para a cadeia. Ele não entende uma palavra do que diz o tal do Joaquim Barbosa, mas já reservou espaço para um pôster do ministro do Supremo ao lado do cartaz do Luciano Huck (“cara bom, ajuda as pessoas”) e do Rafinha Bastos (“ele sim tem coragem de falar a verdade”). O Almeidinha não teve colegas negros na escola nem na faculdade, mas ele acha que o exemplo de Barbosa e do presidente Barack Obama é prova inequívoca de que o sistema de cotas é uma medida populista. É o que dizia o “meme” que ele espalhou no Facebook com o argumento de que, na escravidão, o tráfico de escravos tinha participação dos africanos. Por isso, quando o assunto encrespa, ele costuma recorrer ao “nada contra, até tenho amigos de cor (é assim que ele fala), mas muitos deles têm preconceitos contra eles mesmos”.
O Almeidinha costuma repetir também que os pobres é que não se ajudam. Vê o caso da empregada, que achou pouco ganhar vinte reais por dia para lavar suas cuecas e preferiu voltar a estudar. Culpa do Bolsa Família, ele diz, esse instrumento eleitoral que leva todos os nordestinos, descendentes de nordestinos e simpatizantes de nordestinos a votar com medo de perder a boquinha. Em tempo: o filho do Almeidinha tem quase 30 anos e nunca trabalhou. Falta de oportunidade, diz o Almeidinha, só porque o filho não tem pistolão. Vagabundo é outra coisa. Outra cor. Como o pai, o filho do Almeidinha detesta qualquer tipo de bolsa governamental. A bolsa-gasolina que recebe do pai, garante, é outra coisa. Não mexe com recurso público. (O Almeidinha não conta pra ninguém, mas liga todo dia, duas vezes por dia, para o primo de um conhecido instalado na prefeitura para saber se não tem uma boca de assessor para o filho em algum gabinete).
O filho do Almeidinha também é ativista virtual. Curte PlayStation, as sacadas do Willy Wonka, frases sobre erros de gramática do Enem, frases sobre o frio, sobre o que comer no almoço e sobre as bebedeiras com os moleques no fim de semana (segue a página de oito marcas de cerveja). Compartilha vídeos de propagandas de carro e fotos de mulheres barrigudas e sem dentes na praia. Riu até doer a barriga com a página das barangas. Detesta política – ele não passa um dia sem lembrar a eleição do Tiririca para dizer que só tem palhaço em Brasília. E se sente vingado toda vez que alguém do CQC faz “lero-lero” na frente do Congresso. Acha todos eles uns caras fodásticos (é assim que ele fala). Talvez até mais que o Arnaldo Jabor. Pensa em votar com nariz de palhaço na próxima eleição (pensa em fazer isso até que o voto deixe de ser obrigatório e ele possa aproveitar o domingo no videogame). Até lá, vai seguir destruindo placas e cavaletes que atrapalham suas andanças pela cidade.
Como o pai, o filho do Almeidinha tem respostas e certezas para tudo. Não viveu na ditadura, mas morre de saudade dos tempos em que as coisas funcionavam. Espera ansioso um plebiscito para introduzir de vez a pena de morte (a única solução para a malandragem) e reduzir a maioridade penal até o dia em que se poderá levar bebês de oito meses para a cadeia. Quer um plebiscito também para acabar com a Marcha das Vadias. O que é bonito, para ele, é para se ver. E se tocar. E ninguém ouve cantada se não provoca (a favorita dele é “hoje não é seu aniversário mas você está de parabéns, sua linda”. Fala isso com os amigos e sai em disparada no carro do pai. O filho do Almeidinha era “O” zoão da turma na facul).
Pai e filho estão cada vez mais parecidos. O pai já joga Playstation e o menino de 30 anos já fala sobre a decadência dos costumes. Para tudo têm uma sentença: “Ê, Brasil”. Almeidinha pai e Almeidinha filho têm admiração similar ao estilo civilizado de vida europeu. Não passam um dia sem dizer que a vida, deles e da humanidade em geral, seria melhor se o país fosse dividido entre o Brasil do Sul e o Brasil do Norte. Quando esse dia chegar, garantem, o Brasil enfim será o país do presente e não do futuro. Um país à imagem e semelhança de um Almeidinha.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Direitos Humanos somente para humanos direitos?

Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.
Declaração Universal dos Direitos do Homem

Nos últimos dias, com o acirramento das disputas entre policiais e bandidos, especialmente em São Paulo e Santa Catarina, tem vicejado nas redes sociais um senso comum que se traduz por expressões como "Direitos Humanos para Humanos Direitos"! "Chega de tratar bandido igual cidadão honesto.... bandido bom é bandido morto"!

Ora, trata-se de um absurdo inominável, desconhecimento do que são Direitos Humanos e que denota muitas vezes os preconceitos dos emissores dessas sentenças com tudo aquilo que não seja do seu entorno: pobres, negros, homossexuais, bandidos, e assim por diante.


Quanto a isso é usado um falso argumento de que a opinião de que pensa assim não é repeitada e até mesmo invocam o preceito constitucional do direito à opinião.


Primeiro vejamos a questão dos Direitos Humanos. Não vou aqui fazer uma longa digressão histórica quanto à origem destes direitos e suas diferentes "gerações", direitos civis, direitos coletivos, direitos a um meio ambiente saudável, etc... Um resumo, do que para mim é importante, é que Direitos Humanos são direitos que atingem a todos os seres humanos, independente de qualquer outra condição, e existem para defender o cidadão (seja ele quem for) do poder do Estado. A menos que as pessoas considerem que há humanos que não são humanos!


Portanto não se trata da opinião das pessoas. Qualquer um pode pensar o que quiser a respeito de qualquer coisa, esse direito é sagrado, entretanto pensar não autoriza por si só a ação humana. Essa é limitada pela lei, pela moral e pelos direitos dos outros, entre eles os chamados Direitos Humanos, uma vez que o Brasil, como Estado Democrático de Direito, voluntaria e soberanamente aderiu a tratados internacionais que tratam desse tema.

Para quem quiser saber um pouco mais sobre Direitos Humanos:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Direitos_humanos

http://pt.wikipedia.org/wiki/Declara%C3%A7%C3%A3o_Universal_dos_Direitos_Humanos

http://www.sedh.gov.br/

http://www.sjdh.rs.gov.br/

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Veja que lixo!


A revista Veja tem protagonizado alguns dos episódios mais sórdidos da história da democracia brasileira, atuando de maneira desmedida na defesa de pensamentos retrógrados e interesses escusos.

Nesta semana a superação: na defesa da homofobia o articulista José Roberto Guzo comparou o casamento igualitário com "casar com uma cabra" e disse que "não gostar de gay" é tão legítimo como "não gostar de espinafre" para justificar sua posição ideológica (engraçado que a ideologia sempre é criticada quando de esquerda, enquanto a direita diz não ter ideologia) quanto a homossexualidade.

Mas a resposta veio à altura, e rápido. O Deputado Jean Willis, do PSOL/RJ "deu nos dedos" de Guzo, com o artigo no link: Veja que lixo!

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Pequena fábula de um Mundo Encantado

Certa vez escrevi uma pequena crônica, publicada no Jornal do Sudeste, de Encruzilhada do Sul, denunciando a situação da Casa de Passagem que atende crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade, naquele município. Um absurdo, este serviço municipal foi localizado na antiga cadeia da cidade, num flagrante desrespeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente. Confesso que não sei se a situação já foi resolvida. Eis o texto: 

Existe uma cidadezinha, no Mundo Encantado, onde coisas estranhas acontecem. Eu estive lá e pude confirmar.
Num tempo passado, não tão distante, as autoridades desta cidade foram obrigadas a oferecer um serviço de proteção para crianças e adolescentes em risco social, a Casa de Passagem. Foram obrigadas porque no Mundo Encantado existe uma lei, chamada de Estatuto da Criança e do Adolescente que diz que é responsabilidade do poder público proteger crianças e adolescentes em risco social e parece que o Promotor da cidadezinha assim exigiu.
Esse serviço era muito caro para a cidadezinha, demandava muitos recursos, principalmente porque as autoridades consideravam que a causa para aquele gasto não era relevante: crianças e adolescentes em situação de risco não era investimento que valesse a pena. Sei disso porque estive lá e conversei com as pessoas...
Pois bem, para "baratear" os custos, as autoridades daquela cidadezinha procuraram um lugar que já estivesse pronto, onde não fosse preciso pagar aluguel. E "bingo", acharam!!!
Naquela cidadezinha, lá no Mundo Encantado, existira no passado, um passado um pouco mais distante, uma cadeia pública bem no centro da cidade, mas que não estava mais sendo usada com a finalidade de prisão. E foi lá que as autoridades montaram a Casa de Passagem. Sei disso porque estive lá,vi e não acreditei...
Simbolicamente, as autoridades estavam dizendo para acomunidade: "olha, lugar de criança e adolescente em risco social é na CADEIA"!!! Mas pior era o recado que estava sendo dado para as crianças e adolescentes, que, por um azar das circunstâncias, precisassem ser"protegidos": "olha, o lugar de vocês NÃO É junto à família, à comunidade, mas sim é na CADEIA"!!!
Essa situação afrontava a lei do Mundo Encantado, que era uma lei moderna, avançada, considerada como melhor até de que muitos outros mundos, alguns mais encantados até. Mas o incrível é que mesmo autoridades maiores do Mundo Encantado, como o Promotor de Justiça, o Juiz, não tomaram as providências que podiam tomar para proteger as crianças e adolescentes e fazer com que as autoridades municipais trocassem a Casa de Passagem para um lugar onde os direitos daquelas crianças e adolescentes fossem respeitados. E até hoje a Casade Passagem continua lá, bem no centro da cidadezinha, na CADEIA!!! Sei disso porque estive lá, vi e continuo não acreditando!
E assim é que lá, naquela cidadezinha do Mundo Encantado,continua sendo dito diariamente, sendo martelado nas cabeças de crianças e adolescentes em risco social, que o lugar delas é ... na CADEIA!!!
Ainda bem que isso tudo não é aqui, é no Mundo Encantado...
PS1.       Ao enviar este artigo para o Sudeste recebi a informação de que a Casa de Passagem sofreu uma reforma, ou estaria sofrendo uma reforma por exigência do Ministério Público ou Poder Judiciário. Entretanto esse fato não muda em nada o sentido do que escrevi, pois não importa a condição material, mas sim o que há de simbólico na manutenção de crianças e adolescentes em um local cuja identificação primeira é CADEIA. E isso também não exime a responsabilidade das autoridades e instituições envolvidas: Conselho Municipal de Assistência Social, Conselheiros Tutelares, Secretário de Assistência Social, Prefeito Municipal, Ministério Público e Juizado.
PS2.       E, falando sério!  Meu amigo e Prefeito Artigas: é preciso tomar uma medida urgente, a situação da Casa de Passagem é desumana com toda a infância de Encruzilhada.
Um abraço do amigo Zorro! (nem todos vão entender, mas o Prefeito Artigas vai).

Pensamento

A vida só é vida se envolvida pela vida de outras vidas 

                                        lido na parede do restaurante Mr. Schaw - POA)